As discussões em relação à política monetária do Banco Central vêm ganhando cada vez mais destaque na mídia. Debates de especialistas, acompanhados de opiniões de diversos setores da sociedade, muitas vezes em discussões acaloradas, têm trazido bastante luz ao tema. O regime de metas de inflação deixou bem definido ao Banco Central o objetivo para controle da inflação, prioridade para que o país tenha controle de preços. Desta forma, o Bacen é responsável pela definição da meta de juros, conhecida como SELIC. A análise e revisão da SELIC acontece periodicamente, nas reuniões do COPOM – Comitê de Política Monetária.
Quando o Banco Central eleva a SELIC, há reflexo nas operações de crédito, com aumento do custo para tomada de empréstimos, necessários para o capital de giro das companhias, e financiamento para suportar novos investimentos. Este movimento provoca cautela de diversos setores da sociedade, levando à diminuição de investimento por parte das companhias e à redução do consumo das famílias. Além disso, a elevação das taxas deixa mais atrativos os títulos de renda fixa para investidores, estimulando a poupança junto aos agentes econômicos. Essa combinação de fatores faz com que os preços se estabilizem ou reduzam ao longo do tempo, contribuindo para o controle da inflação.
Quando a inflação está baixa, o Banco Central pode promover a redução das taxas de juros, fazendo as operações de crédito ficarem mais acessíveis. Assim, há o aumento da produção e consumo, que estimula os investimentos. As taxas baixas diminuem o interesse do capital especulativo, desestimulando os investidores.
A equação sempre é complexa, o aumento na demanda necessita ser suportado pela capacidade produtiva e pela disponibilidade de mão de obra, que ajuda na redução do desemprego, crescimento do PIB e produção de riquezas. Entretanto, no longo prazo, se as variáveis acima não estiverem em harmonia, podemos ter a volta da inflação e novos aumentos nas taxas de juros serão necessários.
Desta forma, a definição de taxa de juros é uma decisão difícil, nem sempre popular e envolve acompanhar informações decorrentes da política fiscal e cambial do país. Os fatores econômicos e fiscais, tanto internos, quanto externos, podem requerer uma mudança na estratégia. Eventos inesperados no mercado internacional – como guerras, epidemias e quebras de safra – podem afetar a oferta e demanda, causando desequilíbrio nas políticas estabelecidas pela autoridade monetária.
Principalmente após a crise do COVID-19, autoridades do mundo inteiro adotaram políticas de estímulo ao consumo, diferente da crise nos anos 30 – quando os governos demoraram para agir e geraram uma das crises mundiais mais persistentes, com uma legião de desempregados, queda na produção e consumo, que exigiram anos para recuperação. Em momentos de crise os estímulos são necessários, mas cobram o preço, com aumento da inflação em países que normalmente não enfrentavam tantas dificuldades. A zona do Euro é um bom exemplo de índices de inflação persistentes.
Entender como as taxas de juros podem afetar as nossas finanças pessoais e decisões de consumo é fundamental para a construção de um ciclo de prosperidade em nosso país. Neste sentido, a política monetária deve vislumbrar um planejamento de longo prazo e estar desvinculada de um mandato político, o que ressalta a importância de termos um Banco Central independente.
Jarbas Nei Maçaneiro, Diretor da BelSouth Gestão e Participações